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A Escrita


Pensando historicamente, a primeira a surgir foi a escrita pictográfica (pictu: imagem, graphia: escrita), que se trata dos símbolos e desenhos registrados geralmente nas paredes das cavernas. Tal escrita era uma representação de objetos simbolizando palavras. Estima-se que existiram cerca de 2 mil pictogramas, pois um sinal era empregado para a representação de cada objeto. Tendo como base tal sistema, criou-se a escrita ideográfica, composta por ideogramas que representam palavras, ideias ou objetos. Foi por volta de 4000 a.C. que os sumérios da Mesopotâmia (onde atualmente é o Iraque) aprenderam a escrever em tabuletas de argila, possivelmente para fins comerciais, originando o primeiro escrito conhecido, já que os sistemas anteriores não eram sistematizados, nem ao menos organizados. (MANGUEL, 1997, p. 210).


Surgia então a escrita cuneiforme, sinais em formato de cunha representando sons ao invés de objetos. Diferentemente dos desenhos e símbolos das escritas pictográfica e ideográfica, os componentes da escrita cuneiforme eram “marcas abstratas que podiam representar não apenas os objetos retratados, mas também ideias associadas a eles; palavras e sílabas diferentes pronunciadas da mesma maneira eram representadas pelo mesmo signo”. Foram incorporados, também, alguns sinais fonéticos e gramaticais, com o objetivo de auxiliar a compreensão dos textos, permitindo “nuances de sentido e matizes de significado”. (MANGUEL, 1997, p. 210).


Praticamente na mesma época dos sumérios, há centenas de quilômetros de distância da Mesopotâmia, surgia no Antigo Egito a escrita hieroglífica (grafia sagrada), considerada um sistema de escrita sacra e monumental, conhecida e desenvolvida apenas por escribas, sacerdotes, membros da realeza e de cargos elevados; logo, o povo comum era deixado na ignorância. O texto desta escrita deveria ser lido no sentido que indicava os desenhos, geralmente fixados em paredes de templos e túmulos, excepcionalmente em papiros. Aparentemente, o último registro deste tipo de escrita foi em 394 d.C. A escrita hieroglífica e a escrita cuneiforme obtiveram sua forma a partir do suporte em que eram escritas. Esta última era traçada na argila fresca com o auxílio de um prego. Já a escrita hieroglífica era realizada com tinta e uma haste de caniço sobre o papiro. Como lembra Baron (2015, p. 1), toda escrita exige, de alguma forma, uma tecnologia, seja um computador, um telégrafo, uma caneta ou uma pena.


Posteriormente temos o início da decodificação do sistema da escrita com o surgimento da escrita silábica, onde o som da combinação de consoantes e vogais gerava um símbolo. Ou seja, cada símbolo representava uma sílaba. Para compreender este sistema de escrita, pensemos na combinação dos desenhos de um carro e um gato: car - pet; juntos, eles formam capet, ou seja, tapete. Por fim, mais ou menos em 1000 a.C. surge a escrita alfabética e fonética, graças aos fenícios, a partir da necessidade de redigir contratos rapidamente. Esta escrita era constituída por vinte e dois signos – ou letras –, que possibilitavam escrever qualquer palavra. Contudo, o alfabeto fenício era composto apenas por consoantes. As vogais eram percebidas no contexto da leitura.


A partir do aperfeiçoamento do alfabeto fenício, por volta de 750 a.C, o alfabeto grego foi produzido. Carr (2011, p. 81) declara que, para progredir e expandir, a escrita precisava ser simplificada. E foi isso o que os gregos fizeram ao criar o que é considerado o primeiro alfabeto completo. Os caracteres para sons das vogais foram incluídos após os gregos analisarem todos os sons e fonemas utilizados na linguagem oral, conseguindo representá-los com vinte e quatro caracteres – consoantes e vogais –, transformando seu alfabeto em um eficiente e abrangente sistema de leitura e escrita. Como nota o autor, a chegada do alfabeto grego foi o marco inicial de uma das maiores revoluções da história intelectual: a mudança de uma cultura oral, que trocava e compartilhava conhecimento através da fala e da escuta, para uma cultura literária na qual o meio dominante de expressão do pensamento é a escrita.


A simplificação transformou o alfabeto grego no modelo dos alfabetos ocidentais posteriores, como o alfabeto romano – também conhecido como alfabeto latino. Este é o alfabeto da língua portuguesa, composto por vinte e seis letras, sendo que as letras K, W e Y foram incorporadas recentemente. (MANGUEL, 1997, p. 215). Com a simplificação da escrita, tanto esta quanto a própria leitura tornam-se mais ricas e propagadas. O armazenamento de informação, sua organização, memorização e classificação passaram a ser adquiridos e assimilados – pelos antigos e por nós – através desse sistema. (HORELLOU-LAFARGE; SEGRÉ, 2010, p. 20-21).

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