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A Galáxia de Gutenberg, por Marshall McLuhan


Em A Galáxia de Gutenberg, McLuhan (1972, p. 40) reflete como a tecnologia da escrita fonética e da invenção de Gutenberg destribalizou o homem tribal. Tal processo se dá porque quando o homem assimilou e interiorizou a tecnologia do alfabeto fonético, foi transladado “do mundo mágico da audição para o mundo neutro da visão”. Nota o autor, o mundo da audição é um mundo quente, enquanto que o da visão é um mundo frio.


Este mundo frio, o mundo das palavras, é também o mundo da indiferença. Logo, há uma ruptura entre os dois mundos, que o homem ultrapassa com a escrita fonética e a tipografia. De tribal passa a ser individual. De mundo mágico passa a mundo neutro. Como mencionamos anteriormente, a primeira escrita a surgir não foi a escrita fonética. Contudo, exceto esta, nenhum tipo de escrita “chegou jamais a desprender o homem do domínio possessivo de total interdependência e inter-relação que é o mundo auditivo”. A escrita fonética foi a única com “o poder de transladar o homem da esfera tribal para a esfera civilizada” (MCLUHAN, 1972, pp. 46-52).


Este homem destribalizado, pertencente ao mundo neutro, é entendido por McLuhan (1972, p. 64) como um “homem tipográfico”. É pensando neste homem que o autor busca elucidar como ocorrem e quais são os “efeitos causados pela escrita fonética na aquisição de novos modos de percepção”, e por conseguinte, pela tipografia. Em outras palavras, buscou entender como a inserção de novas tecnologias (como a escrita e os tipos) transformou o homem. Tornou-o civilizado, guiado por métodos visuais.


Neste contexto, se a escrita fonética inseriu o homem no mundo neutro e civilizado, a invenção da tipografia inseriu-o na produção em massa, pois conforme lembra McLuhan (1972, p. 177), “a palavra impressa foi a primeira coisa produzida em massa, foi também o primeiro bem ou artigo de comércio a repetir-se ou produzir-se uniformemente”. Com a palavra impressa e o formato portátil do livro, o individualismo acentuou-se na concepção do autor. Isto porque, destaca McLuhan (1972, p. 270), a escrita foi transformada em comunicação de massa, ou seja, um sistema fechado. Já a portabilidade do livro isolou seu leitor.


Em síntese, compreendemos que o homem tribal (da audição e do mundo mágico) foi destribalizado e transladado para o isolamento (da visão e do mundo neutro) através da tecnologia da escrita fonética e da tipografia. Todavia, este homem tribaliza-se novamente com a advento das tecnologias eletromagnéticas, tais como o telégrafo, o rádio e a televisão. Com a comunicação eletrônica o homem passa a pertencer a uma “aldeia global”.


Por mais que valorize o homem tribalizado e retribalizado, McLuhan (1972, p. 334) ressalta que sua reflexão não tinha a intenção de verificar se a invenção da palavra impressa foi boa ou má, uma vez que, por mais que tenha destribalizado o homem, foi somente através de tal invenção que a sociedade evoluiu, controlou suas forças naturais, desenvolveu sua economia, sua cultura, sua política e seu conhecimento.


A questão central, para McLuhan (1972, p. 334), é a necessidade de tomarmos consciência dos “efeitos de qualquer força”, de qualquer tecnologia sobre quem somos, “especialmente quando se trata de forças que nós mesmos criamos”. Para o autor, ignorar este fato é um desastre iminente.

 

Em seu artigo "A galáxia de McLuhan", o professor Fabrício Silveira menciona o filme de Woody Allen Noivo neurótica, Noiva Nervosa (1977), onde o próprio McLuhan surge para esclarecer sua teoria. Confesso que invejei Alvy Singer: daria tudo para me esclarecer sobre McLuhan com o McLuhan.

 
 

Referência:

McLUHAN, M. A Galáxia de Gutenberg. A formação do homem tipográfico. São Paulo, Ed. Nacional, 1972.

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