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A morte do autor, por Roland Barthes


É no leitor onde se reúnem as “escrituras múltiplas, oriundas de várias culturas e que entram umas com as outras em diálogo, em paródia, em contestação” que formam o texto, e não no autor, destaca Barthes (1988, p. 71). É no leitor que se inscrevem “todas as citações de que é feita uma escritura”. Logo, é no seu destino que o texto encontra sua unidade, e não na sua origem.


Se para Barthes (1988) o texto ganha vida no leitor, o autor encontra sua morte na escrita. É apenas aquele que escreve, é um scriptor. Barthes (1988, p. 69) nota que o autor, “personagem moderna” produzida pela sociedade, não existe antes do seu texto; ele “nasce ao mesmo tempo que o seu texto; não está de modo algum provido de um ser que precederia ou excederia a sua escrita, não é de modo algum o sujeito de que o seu livro seria o predicado”. De acordo com Barthes (1988, p. 70),



o escritor não pode deixar de imitar um gesto sempre anterior, nunca original; o seu único poder é o de misturar as escritas, de as contrariar umas às outras, de modo a nunca se apoiar numa delas; se quisesse exprimir-se, pelo menos deveria saber que a ‘coisa’ interior que tem a pretensão de ‘traduzir’ não passa de um dicionário totalmente composto, cujas palavras só podem explicar-se através de outras palavras, e isso indefinidamente: sucedendo ao Autor, o scriptor não tem já em si paixões, humores, sentimentos, impressões, mas sim esse imenso dicionário onde vai buscar uma escrita que não pode conhecer nenhuma paragem: a vida nunca faz mais do que imitar o livro, e esse livro não é ele próprio senão um tecido de signos, imitação perdida, infinitamente recuada.



Posto de outro modo, Barthes (1988) reflete que o texto existe porque alguém o escreveu, ou seja, seu escritor. Ao escrever, o escritor se coloca no papel. Contudo, tudo aquilo que o papel registra advém das referências do escritor. Tais referências já existem, foram narradas ou contadas antes do escritor as necessitar. Neste viés, Barthes (1988) discute a exacerbada importância que a critica literária moderna agrega ao autor, uma vez que cada pedaço do seu texto existia independente da existência do próprio autor.



No entendimento de tal crítica, para se “entender” uma obra, é imprescindível entender quem é seu autor, sua sociedade, sua época, sua origem, sua biografia. Com isso, a critica literária moderna diz que o significado de uma obra está em seu autor. Para Barthes (1988), está no leitor. No entanto, como há vários leitores, também há vários significados. É o leitor quem atribui sentido ao texto, segundo sua bagagem histórica e cultural. Isso significa, como ressalta Barthes (1988, 70), que a “a pretensão de ‘decifrar’ um texto torna-se totalmente inútil”, uma vez que, não há uma maneira correta ou errada de entender um texto: há maneiras diferentes, e estas existem no leitor, não no autor. Posto isso, “o nascimento do leitor tem de pagar-se com a morte do Autor” (BARTHES, 1988, 70).






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