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O Mito, segundo Roland Barthes




Roland Barthes em seu livro Mitologias (2007, p. 205) afirma que o mito “é um sistema particular, visto que ele se constrói a partir de uma cadeia semiológica que já existe antes dele: um sistema semiológico segundo".


Afirma que o mito é um sistema duplo “no qual se produz uma espécie de ubiquidade: o ponto de partida do mito é constituído pelo ponto final de um sentido”. Ao final de um sistema semiológico encontramos o signo e este se torna significante novamente, iniciando um sistema semiológico segundo (2007, p. 214).


Barthes (2007, p. 205) expõe-nos um esquema explicativo para assimilarmos a construção mitológica, como uma construção de um sistema semiológico segundo: “uma translação essencial para a análise do mito”.



Acredita, então, que “no mito existem dois sistemas semiológicos, um deles deslocado em relação ao outro”. Um é o sistema linguístico, a língua, que o autor chama de linguaguem-objeto, e o mito, que o autor chama de metalinguagem.


Barthes apresenta-nos o termo “forma” do mito, ou seja, as diferentes maneiras que esse pode utilizar para consolidar-se. Segundo o autor (2007, p. 208), “tornando-se forma, o sentido afasta sua eventualidade, esvazia-se, empobrece, a história evapora-se, permanece apenas a letra”.

Na estrutura tridimensional do mito, significante, significado e signo, Barthes (2007, p. 207) chama o significante de forma, e significado de conceito. Segundo ele, o conceito “é determinado, sendo simultaneamente, histórico e intencional”, ele é completamente abstrato, o que não o impede de estar “repleto de uma situação”. Argumenta que “toda uma nova história é implantada no mito” graças ao conceito. Entendemos que é a transferência de todo um sentido fechado que, aliado a novos conceitos, novos sentidos abertos, transforma-se em um novo signo: um mito.


Para Barthes (2007, p. 210), o conceito possui um caráter aberto, ou seja, “não é absolutamente uma essência, abstrata, purificada, mas sim uma condensação informal, instável, nebulosa, cuja unidade e coerência provêm, sobretudo, da sua função”.


Encontramos, então, nas palavras de Barthes (2007, p. 210), a “característica fundamental do conceito mítico, que é a de ser apropriado”. Ele não é algo rígido, finito, ele se apropria de um sentido que pode ser abandonado. Deste modo, “não existe rigidez alguma nos conceitos míticos: podem construir-se, alterar-se, desfazer-se, desaparecer completamente. E é precisamente porque são históricos, que a história pode facilmente suprimi-los”.


Por fim, de acordo com Barthes (2007, p. 214) “o mito tem como função deformar, não fazer desaparecer”. O mito não esconde nada, ele apropria-se de um sentido, esvazia-o e deforma-o, nunca o anula ou o apaga. O autor (2007, p. 213) afirma ainda que “a relação que une o conceito do mito ao sentido é essencialmente uma relação de deformação.




Referência:

BARTHES, Roland. Mitologias. Rio de Janeiro: DIFEL, 2007.

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