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Entendendo a cultura com Laraia



Roque de Barros Laraia (2014, p. 19) [grifo do autor], em sua obra Cultura: um conceito antropológico; assegura que o termo “Kultur era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilization referia-se principalmente às realizações materiais de um povo”. Contudo, os dois termos foram resumidos por Edward Tylor no termo inglês Culture¸ que “tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábito adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Laraia (2014, p. 27) acredita que o termo cultura abrangeu tantas concepções e definições que, para Geertz, uma das tarefas da antropologia moderna seria exatamente tentar diminuir a amplitude que o termo tomou.


Laraia (2014, p. 19) explica-nos a noção de cultura através da visão dos antropólogos, elucidando questões importantes para a compreensão desta. O primeiro esclarecimento sobre a cultura é compreender que esta não é determinada geneticamente, pois “o comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado”. Em outras palavras, isso significa que “o homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquirida pelas numerosas gerações que o antecederam”.


As diferenças geográficas estabelecidas pelos limites de ambientes físicos também não são fatores que condicionam diferenças culturais, obrigatoriamente. É perfeitamente possível “existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico”. Laraia (2014, p. 52) lembra-nos que a “comunicação é um processo cultural. Mais explicitamente, a linguagem humana é um produto da cultura, mas não existiria cultura se o homem não tivesse a possibilidade de desenvolver um sistema articulado de comunicação oral”.


O autor resgata as concepções do antropólogo norte-americano Clifford Geetz onde este, percebendo que o cérebro do “Australopiteco media 1/3” do tamanho do nosso cérebro, concluiu que “a maior parte do crescimento cortical humano foi posterior e não anterior ao início da cultura”. Tal constatação significa que o homem é produtor da cultura, mas ao mesmo tempo é produto desta. Além disto, assim como o próprio homem, a cultura também é dinâmica, modificando-se com o passar dos anos. A sociedade, por mais que não queira, sempre se transformará.


Por fim, Laraia (2014, p. 63) observa: “uma compreensão exata do conceito de cultura significa a compreensão da própria natureza humana, tema perene da incansável reflexão humana”. Portanto, o entendimento da cultura é um processo contínuo e constante.

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